A realidade que nos encontramos inseridos é sempre ocasião de suporte e demanda para nossos contatos. Na medida em que realizamos o contato, irrealizamos a realidade antes dada.
Movimento fundamentalmente transformador, em que um mundo de profundidade, um mundo não objetivo, nos toca e nos provoca, convida, pulsa. Este mundo entra em um embate, um conflito nada harmônico com as expectativas sociais, a normatividade, as exigências de desempenho e identidade.
Entre a realidade realizada e a realidade a realizar, há uma clivagem. A não harmonia é sentida como tensão, e se presentifica corporalmente, como incômodo e ímpeto de agir – excitamento.
Não se trata aqui de mero conflito intrapsíquico entre eu interior e mundo exterior. Muito pelo contrário, os excitamentos da existência – os ímpetos mais profundos que vivemos – não vêm de um centro identitário, mas, ao contrário, são a própria maneira com que o outro se apresenta em mim. Se a experiência fosse o movimento de um eu que encontra um mundo social e o absorbe em prol de si, teria um caráter puramente egotista. Ao contrário, acreditamos que se podemos crescer ao confiar em nosso próprio excitamento espontâneo, é porque a espontaneidade é o próprio toque do outro em minha vivência. Assim, o eu se dissolve.
Somos corporeidade imersa num mar de alter-excitamentos, no momento que estes se encontram com uma realidade resistente, instituída. Este é o aqui-e-agora, que tão logo reconhecemos, já desapareceu. A cada novo agora que passa, a potência de um outro mundo se realiza no meu corpo.