Entre medo e alegria

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Fato curioso: por motivos irrelevantes (mas quem quiser, eu conto!) cresci desprezando o carnaval. Assim como muitos, comprei o discurso que o coloca como a festa dos prazeres baixos, distante de algum tipo de elevação cultural ou espiritual. Por isso, brinco até hoje que eu tinha um potencial não aproveitado (ainda bem!) pra ser um sujeito reacionário. Aquele amontoado de povo junto e misturado, vivendo algo “sujo” e “fútil” me dava uma sensação de repulsa, incômodo e até ansiedade. Não queria chegar nem perto!

A ansiedade, entretanto, é muito reveladora: frequentemente denuncia a inibição não só de receio, mas também de desejo. Eu, garoto desajeitado e sem muito molejo social, nunca havia experimentado o calor da multidão, a embriaguez entre amigos amados, o suor da incansável dança popular ou mesmo o beijo semi-apaixonado em uma pessoa desconhecida. Ter medo de carnaval é rejeitar as muitas formas pulsionais que atravessam nosso corpo sem nosso consentimento ativo, mas que tornam nossa vida mais brilhante.

Agora todo ano, já há algum tempo – após um período de transformação pessoal e emocional (obrigado aos meus terapeutas!) – me junto ao resto do povo alegre desse país, que mesmo em meio a tantas mazelas sociais faz questão de dedicar uma semana quase inteira ao ser-corpo. Correndo o risco de parecer exagerado, o carnaval vem nos lembrar – e me lembrar – de que somos terrivelmente e maravilhosamente mundanos. De que para muito além do poder, do status e do dinheiro que buscamos em boa parte de nosso tempo, precisamos também da sensação de pertencimento à cidade, da sexualidade livre, da expressão vigorosa, do movimento espontâneo e do prazer em estar junto.

Que possamos ser carnavalescos também no resto do ano!

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