Sobre o processo diagnóstico em Gestalt-Terapia

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

No raciocínio técnico-científico gestáltico, o diagnóstico não é concebido como um processo isolado, visto que qualquer contato entre terapeuta e cliente provoca um efeito e é automaticamente “interventivo”, ou seja, “toda identificação diagnóstica implica intervenção terapêutica” (Müller-Granzotto e Müller-Granzotto, 2007. p.325). Também não deve ser produzido de forma unilateral, mas colaborativa, o que significa que é necessário que o terapeuta tenha sido afetado pela forma (gestalt) vivida conjuntamente a este cliente. Não poderia ser diferente, uma vez que “é a partir do lugar que somos (ou não) convidados a ocupar no ‘apelo’ do consulente que identificamos ajustamentos” (Ibid.). Por conta disso, é através da “atenção ao impacto verbal, físico, postural e afetivo que a presença do cliente causa em si mesmo” (Pimentel, 2003. p.72) que o terapeuta poderá conduzir qualquer tipo de intervenção diagnóstica na situação clínica.

Para produzir um psicodiagnóstico gestáltico é necessário acessar o “padrão existencial do paciente, referindo-se ao movimento singular individual de se comportar, pressentir, perceber, pensar, sentir, acreditar” (Ibid. p.63) e o fazer através de recursos colaborativos e interventivos, aproximando-se da “compreensão do mundo psicológico dos pacientes a partir do entrelaçamento intersubjetivo dos pontos de vista do psicólogo e do próprio cliente” (Ibid. p.53). Dessa maneira, o terapeuta se abstém do papel de único detentor da verdade diagnóstica e estimula o “papel ativo e responsabilidade do paciente no processo psicodiagnóstico” (Ibid. p.56)

Visto que na própria teoria da gestalt-terapia a experiência é sempre concebida como contato em um campo, o diagnóstico não poderia ser diferente: o laudo psicodiagnóstico concebido através da abordagem gestáltica sempre “considera o dinamismo da existência e o contexto em que o sofrimento se imiscui” (Ibid. p.93). Isso significa, por fim, não se tornar refém de concepções unidimensionais, que não levam em consideração o contexto histórico e social envolvido nas relações humanas, especialmente aquelas nas quais há sofrimento.

Para não reduzir a complexidade do fenômeno, o psicodiagnóstico gestáltico é concebido como uma “atividade informal, aberta, dinâmica, de caráter processual, marcadora de tendências” (Ibid. p.225). Ou seja, deve trabalhar a favor dos movimentos existenciais, transformadores e da participação responsável do próprio cliente, e não de forma a reduzi-lo a objeto passivo enquanto cristaliza seu sofrimento como imutável e o marca enquanto doente.

REFERÊNCIAS:

Psicodiagnóstico em Gestalt-Terapia. Adelma Pimentel (2003)
Fenomenologia e Gestalt-Terapia. Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2007)

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