Entre medo e alegria

Fato curioso: por motivos irrelevantes (mas quem quiser, eu conto!) cresci desprezando o carnaval. Assim como muitos, comprei o discurso que o coloca como a festa dos prazeres baixos, distante de algum tipo de elevação cultural ou espiritual. Por isso, brinco até hoje que eu tinha um potencial não aproveitado (ainda bem!) pra ser um […]

Estranhar-se

É curioso o sentimento de autoestranhamento, embora tão comum. Durante a vida, construímos identidades que nos orientam e asseguram em um ambiente por vezes tão caótico e imprevisível. Mais do que imagens, as identidades falam de estilos de habitar o mundo, que ao mesmo tempo nos possibilitam conforto e nos enrijecem. Ou seja, ser de […]

O paradoxo da completude

Tem me intrigado o conceito de “completude”. Na Gestalt-Terapia fala-se muito de “totalidade”, mas os dois não poderiam ser confundidos, visto que o self gestáltico não é completo, mas sempre visa algo que não é ele mesmo e que está para além de si, ou seja, que lhe falta. Assim, os gestaltistas pretendiam precisamente criar […]

A dança dos desencontros

Quanto mais sentimos e menos pensamos, mais nos aproximamos do mistério do contato amoroso. Não se trata de acaso: como em tudo mais que diz respeito aos estados afetivos, o ato teórico sem fundamento rigoroso na experiência se prova estéril. Monogamia, relacionamento aberto, sexo casual, demissexualidade – todos conceitos importantes, sem dúvidas, mas que por […]

Finais

Aprendi desde muito cedo – como a maioria de nós aprende – que na vida tudo é passageiro, e não podemos sempre ter tudo que queremos. Talvez um dos primeiros golpes narcísicos na pequena criança, tão acostumada com o útero e com o peito e que jurava por tudo que o mundo lhe servia. Esse […]

O labirinto

É frequente que, ao final de processos terapêuticos, seja impossível explicar o quê ali se passou. Isso não indica uma falta de autoconhecimento do cliente ou uma falta de conhecimento do terapeuta, mas sim que essa experiência não se pautou só na racionalidade, no aspecto teórico e conhecido, mas também que foi atravessada pela dimensão […]

Imergir

Praticar a Gestalt-Terapia é ter coragem para imergir nas vivências daqueles que nos procuram. Fazer isso é dispor-se a perder o próprio centro de segurança, abdicar da necessidade de recorrer a diagnósticos, objetivos, explicações, e outras formas de impedir a ansiedade, a angústia, o sofrimento, o excitamento. Praticar a Gestalt-Terapia é viver cada um desses […]

O passado já passou?

A Gestalt-Terapia é frequentemente conhecida como a terapia do aqui-e-agora. Embora esse de fato seja um conceito fundamental em nossa teoria e prática, frequentemente foi simplificado e virou um estereótipo. Em sua versão simplificada e empobrecida, o aqui-e-agora é meramente o presente, sem passado e sem futuro: sem história e sem desejo. Quando os fundadores […]

Ética Gestáltica

Pode-se dizer que a Gestalt-Terapia não só tem uma ética, mas também é uma ética. Isso porque seja onde for realizada – não necessariamente em um consultório – os métodos, técnicas e a postura gestáltica nos fazem encontrar algo “outro”, algo “diferente”, para usar a linguagem do livro “Gestalt-Terapia” de 1951, viver uma “novidade”. Neste […]

A importância de dizer NÃO

Não é incomum vermos pais que se indignam quando recebem um “não” de seus filhos. Tentando ensinar-lhes a importância da autoridade, se preocupam com a possibilidade de rebeldia e irresponsabilidade. Essa preocupação é certamente legítima. Entretanto, quero falar de um outro ponto de vista: quando ensinamos que dizer “não” é errado, estamos essencialmente dizendo para […]