Um dos grandes erros da medicina ocidental é acreditar que o corpo se regula a partir de si mesmo. Na Gestalt-Terapia há a compreensão de que o organismo não se regula a partir de si, mas a partir de um campo, o que inclui o ambiente e também o organismo. Todos esses elementos estão diluídos no campo: não há como separá-los.
O termo “autorregulação organísmica” é utilizado para constatar que o corpo não só reage, mas produz criativamente frente ao campo. Tudo o que é “psicologicamente real” é tão relevante para a autorregulação organísmica quando o que é “biologicamente real”: a separação entre biológico e psicológico deixa de fazer sentido.
Se o desejo fraqueja, o corpo fraqueja. Se a vivência é tediosa, o corpo se embota. Se não há sentido, o corpo desiste. Se há interesse, o corpo se excita. Se há possibilidade, o corpo se prepara.
É aí que erra a medicina ocidental: ao reduzir o campo ao organismo, excluindo o contato com o ambiente (O “psicologicamente real”), ela não consegue compreender uma série de ocorrências. Assim, desqualifica-as: chama-as de somatização, transtornos mentais, loucura. Todos esses fenômenos se tratam, na realidade, de uma produção criativa frente a certo campo. Eles só estão localizados no organismo parcialmente, por mais que as neurociências não se cansem de procurar-los ali por inteiro.
Esse é o atestado da sabedoria do corpo: ele está aí, já como uma presença anterior as minhas escolhas, agindo antes de qualquer ato de reflexão. O corpo se faz, assim, a cada nova situação, sujeito de um campo. Corpo é abertura. Corpo é permeabilidade. Corpo é criação.