Amor e desencanto

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Entre os inúmeros escritores que se dedicaram a estudar o amor está o filósofo francês Jean-Paul Sartre. Para Sartre, não amamos o ser amado da mesma forma que entramos em contato com um objeto. Não são as qualidades físicas ou as propriedades objetivas que nos levam a amar alguém.

Ao contrário, é o próprio olhar que o outro nos dirige que nos faz apaixonar. Ao sermos desejados ou amados – ao percebermos o tal do brilho no olhar – sentimo-nos enfim inteiros. Nosso projeto pessoal, sempre finito, incompleto e inacabado, assume enfim um tom de completude que nunca antes havíamos experienciado. No olhar amoroso sentimo-nos valorizados em nossos pequenos detalhes, temos por um breve momento o sentimento de que nosso corpo e nossa existência é justa, absoluta e alegre.

São os estilos do outro, suas formas, manifestas na expressão de sua liberdade, que nos fazem desejá-lo. Tal qual circulo vicioso, uma vez que assim desejamos ser desejados, amamos ser amados. Amo o outro porque ele me olha com amor, e ele me ama porque o olho com amor, ambos em sua liberdade desejante.

Entretanto, justamente por se tratarem de liberdades em contato, o amor e o desejo estão sempre em perigo. A qualquer momento aquele que me valorizava acima de tudo, que me amava com brilho no olhar pode voltar a olhar-me como mais um entre outros. Este é o desencanto. Momento doloroso para quem ainda amava. O ciclo está enfim quebrado, e aos poucos o Outro se torna apenas mais um outro.

É por esse motivo que os seres humanos amam os filmes de amor e sonham com o dia de seu casamento (mas não gostam muito dos casamentos em si…). Nada mais tentador do que a garantia do amor do outro, do que a certeza de minha própria plenitude existencial.

Para nossa ampla tristeza, esses projetos e ideais fracassam com frequência, uma vez que só poderia haver garantia absoluta em um universo em que não houvesse liberdade alguma. E já que não vivemos – felizmente? – nesse universo, por enquanto lidemos da melhor forma possível com nossas dores, incertezas e amores. Mesmo quando o olhar já não brilhar mais.

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