A vida na forma de condomínio

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Uma das metáforas que psicólogos e psicanalistas (como o professor da USP Christian Dunker) tem utilizado para ilustrar o estilo de vida idealizado e desejado em nossa época é a “lógica do condomínio”.

Os condomínios são espaços fechados e privados, onde seus moradores se sentem seguros e livres. Em geral são bem limpos, cuidados e organizados. Há um certo senso de comunidade com os vizinhos, e os portões e porteiros garantem a ausência de intrusos. Trata-se enfim da moradia perfeita, livre do medo de tudo que fica “lá fora”.

Justamente por isso, os condomínios se tornam “ideais”, quase imaginários. As moradias dos condomínios em geral ficam longe de suas fronteiras – os moradores não tem desejo algum de entrar em contato com o mundo real.

Afinal, no mundo real há tudo que não querem ver: miséria, dor, morte, a pobreza, a rebeldia, a política, a história… os muros do condomínio servem de proteção contra a facticidade, a corporeidade, a finitude humanas.

Não se tratam aqui apenas dos condomínios literais, mas sim de um estilo de vida. O consumidor de nossa época parece desejar se movimentar apenas dentro de espaços fechados – da casa (que fica dentro do condomínio) vai apenas para o trabalho e para o shopping (onde já estaciona dentro de ambos, sem precisar andar pela rua).

Vivem sem saber nada sobre a cidade que vivem, ou pelo menos sobre seus aspectos que não são destinados a um turista.

A consequência da lógica de condomínio é a sucatização da vida pública; qual a necessidade de eventos, cultura e segurança na rua se “quem importa” está sempre já dentro de seus condomínios? Se agora os shows acontecem dentro dos shoppings, se os esportes e as confraternizações tem lugares dedicados para acontecer dentro de muros bem protegidos?

Não seria o ideal contemporâneo da vida em condomínio um sinal de que desistimos da vida pública?

Os condomínios – metafóricos e literais – criam uma existência ilusória, que promete a inexistência do outro. Aí está seu sentido profundamente anti-ético.

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