Dia desses vi na internet a frase que alertava “coaching não é terapia”. Sua mensagem é certamente importante: terapia NÃO diz respeito a uma série de técnicas ou módulos pré-definidos que levam a um resultado objetivo.
Essa frase nos provoca, entretanto, um questionamento importante. Se, diferentemente de outros saberes e práticas, nós – terapeutas – não estamos simplesmente aplicando conhecimentos e técnicas de modo a almejar uma meta, um resultado definido, o que é que então que fazemos?
Em Gestalt-Terapia, o valor pago por uma sessão não diz respeito a um resultado objetivo, uma meta, como sucesso profissional, um diploma, uma vitória numa competição, uma certa quantia de dinheiro, “saúde perfeita”, aumento de desempenho, etc. Ao contrário, paga a disponibilidade do terapeuta.
Essa disponibilidade não diz respeito aos conhecimentos que ele tem e vai aplicar em seus clientes de forma a obter os melhores resultados possíveis. É, ao contrário, uma disponibilidade em imergir no aqui-e-agora de uma vivência. Isso significa que, em lugar de trabalhar através dos aspectos racionais e objetivos, o terapeuta irá se deixar envolver pelo campo que se forma, abdicando de explicá-lo e dominá-lo. O terapeuta está disposto a ser afetado, algo que não acontece quando se é o dono do saber que será aplicado.
O que acontece é que essa imersão provoca aspectos emocionais até então implícitos e abre possibilidades criativas. Os resultados objetivos que o cliente procurava deixam de ser a figura, o seu principal interesse. Ele nota que estes resultados muitas vezes são frutos de demandas produtivas de um meio social exigente (como é o do mundo capitalista: não é por acaso que o coaching surge neste sistema econômico) e que tem, no fundo, um valor emocional:
“Queria admiração”
“Queria agradar meus pais”
“Queria provar que não sou fraco”
“Queria não depender de ninguém”
“Queria mostrar meu poder e minha virilidade”
“Queria ser mais inteligente que todos”
“Queria vingança de meu trauma”.
Assim, mais importante do que buscar resultados objetivos é imergir na forma como foram criados e na necessidade vital que expressam. É convidar à implicação no sentido do próprio desejo, o que muitas vezes vai significar o abandono de buscas obsessivas por resultados, uma vez que estas representam geralmente o desejo do meio social.
A Gestalt-Terapia se destaca justamento na medida em que, focando no aqui-e-agora, se abstém da normatividade social, não tendo objetivos definidos. Essa ausência de um caminho já trilhado é o que permite que o novo caminhar na terapia seja vitalmente espontâneo e pleno de sentido.