A infância é frequentemente tão desprezada – quando queremos falar sobre um comportamento desadequado, bobo, desviante, nós o chamamos de infantil. No livro que funda a Gestalt-Terapia, ao contrário, há um elogio da infância.
Desde a primeira infância o bebê já está investido de uma capacidade criativa. Mesmo errático e desorientado, ainda assim, o bebê responde a uma demanda afetiva – o olhar e as vozes dos primeiros “outros” os quais experiencia. Já no bebê, se manifesta uma criatividade desorientada.
A criança, ainda não atravessada por uma normatividade repressora ou uma exigência de desempenho, flui em suas possibilidades, executa despreocupada, mas levando a sério sua brincadeira. Vai na base da tentativa e do erro. Ainda não adquiriu o ritmo dos movimentos, mas na sua errância ela repete o movimento desejado até aprender. Fascina-se facilmente. Está ávida pelo saber, pela destreza, pela habilidade, pela inclusão entre os outros.
Não por acaso identificamos a infância com a brincadeira: que é a brincadeira se não um ensaio sem apresentação?