Tenho, literalmente, me descoberto na escrita.

Quando escrevo, não é como se eu já soubesse de antemão o que vou escrever, como se eu já soubesse o que estou sentindo ou pensando e escrever fosse apenas transpor em palavras, organizar o que já existe.

Mais do que isso, quando escrevo, as palavras e os sentidos e os significados e as entrelinhas e os afetos e os ímpetos se oferecem à mim, dispõe-se à minha escrita. Parece-me que o próprio mundo se faz disponível, que toda a história da humanidade, distante mas próxima, se apresenta à meu corpo e tudo que tenho que fazer é escolher partes dessa história, ou melhor: deixar-me ser escolhido.

Surpreendo-me com minha própria criação porque ela é muito mais do que qualquer coisa que eu poderia ter imaginado antes de criar, ela é muito mais do que eu. E nesse movimento de mundo em mim e eu no mundo, escrevo o texto, escrevo o mundo, e escrevo a mim mesmo.

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