Aprendi desde muito cedo – como a maioria de nós aprende – que na vida tudo é passageiro, e não podemos sempre ter tudo que queremos. Talvez um dos primeiros golpes narcísicos na pequena criança, tão acostumada com o útero e com o peito e que jurava por tudo que o mundo lhe servia. Esse primeiro choque costuma ser marcado pelo vazio: uma compreensão desesperadora e evidente de que há sempre algum grau de solidão que nos acompanha.

Obviamente, resta chorar. O choro tem algo de místico: ao mesmo tempo que cumpre seu papel real de descarga emocional e relaxamento muscular, tem também uma função anímica, como se nosso sentimento pudesse mudar o mundo. Faz papel de apelo, como se alguém fosse nos ouvir e oferecer um colo, uma palavra de acalanto ou simplesmente nos acordar desse estranho sonho.

Felizmente, somos seres não apenas gregários mas profundamente afetivos e o chamado move aqueles com quem sentimos conexões orgânicas ou mesmo cósmicas. Em uma palavra, aqueles que nos amam. Aos poucos nos reorganizamos diante da nova configuração, encontrando nossas bases e se aterrando pra encarar um mundo diferente.

Talvez nesse momento esse mundo pareça menos belo, mas é impossível tirar as lentes do presente. Não há, como diria Merleau-Ponty, pensamento de sobrevoo. Com essa expressão, o filósofo francês pretendia fazer uma crítica a ideia de objetividade científica, mas ao mesmo tempo nos mostrou que é inútil tentar evitar ser quem somos e estar onde e quando estivermos. Resta uma certa humildade, quase um respeito por esse aspecto do mundo que está tão além do nosso controle, chamado liberdade do outro.

Quando finalmente – demore isso um dia, um mês ou uma década – terminarmos de chorar o necessário, respirarmos fundo e sentirmos o chão sob nossos pés, poderemos olhar para a frente e compreender finalmente que o mundo ainda está lá, esperando para ser caminhado, como sempre diferente e como sempre hostil e maravilhoso, tudo ao mesmo tempo.

É por isso que o texto de hoje não é uma carta de ressentimento, mas uma homenagem. Porque os finais são indispensáveis nos ciclos de uma vida e são eles que permitem novos inícios. Mas não há necessidade ou vontade de fingir: a marca do que foi continuará sempre a nos acompanhar e algum dia ainda será possível sorrir lembrando de uma outra época.

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