Neurose e consumismo

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Os ajustamentos neuróticos não são um transtorno individual, mas uma forma de se relacionar em que se está cronicamente submisso ao desejo da sociedade e seus dispositivos de poder e controle.

Na neurose, perdemos nossa capacidade de agir e escolher, de dizer “sim” ou “não”. Uma vez que através da história o desejo da norma social e seus dispositivos de dominação mudam, os ajustamentos neuróticos também mudam.

Quando as teorias psicanalíticas e mesmo a teoria Gestáltica da neurose foram concebidas, ainda dominava predominantemente o desejo de um “poder repressor”, o poder que impede de dizer “sim”, o poder que impede a vivência da expansão e da expressão, através da disciplina que volta toda a energia para dentro, para um retraimento muscular, uma autoagressão. Um poder que deseja os corpos fracos, submissos e dóceis, como diria Foucault.

Hoje, embora ainda exista muito do “poder repressor”, podemos identificar uma outra tendência também neurotizante: uma espécie de “poder estimulante”, o poder do consumo, o poder da imagem e dos ideais de vida, do desejo vendido e imposto.

Também este neurotiza, enfraquecendo e submetendo, mas agora não mais impedindo de dizer “sim”, mas impedindo de dizer “não”. Frente às demandas capitalistas, temos dificuldade em negar. Sabem muito bem isso os pais que lidam com os desejos incessantemente renovados dos filhos que assistem muita TV, e, logo, muita propaganda…

Muitas vezes, na nossa sociedade, o trabalho de uma terapia empoderadora será mobilizar a capacidade de se recusar a consumir, seja recusar um ideal, um produto ou uma forma de vida.

Posts relacionados