O desejo de enriquecer

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Contrariando uma tendência espiritualista que acredita que todo bem material é causa de sofrimento, desamparo e falta de sentido, acredito que os desejos de enriquecimento são legítimos. O desejo de riqueza é na realidade uma procura de garantir a possibilidade de suporte para os contatos e desfrute da vida.

Em nossa sociedade, entretanto, “enriquecer” tem cada vez mais um sentido acumulativo e desconectado das necessidades e desejos. Torna-se frequentemente um jogo neurótico ou um fetichismo perverso.

Pior do que isso, esse enriquecimento não é coletivo, mas só de alguns poucos privilegiados. O mercado de trabalho exige que cada um “empreenda a si mesmo” para garantir sua sobrevivência. Cada vez mais se individualizam os bens sociais e os projetos de vida. Vivemos numa sociedade ego-centrada, ego-estimulante, ego-exigente.

Na sociedade capitalista, aniquilam-se os vínculos comunitários e as redes de apoio. A única possibilidade de suporte para o viver aparece como sendo o acúmulo de riqueza. Acredito que desejar enriquecer é desejar uma vida bem vivida. Em nossa sociedade, esse desejo se transforma num ajustamento neurótico ego-tista, pois é como se tentássemos ser autossuficientes, excluindo a necessidade do mundo e dos outros.

Apesar disso, não acredito então que devamos simplesmente abandonar toda materialidade em prol de uma espiritualidade desconectada de nossos desejos. Ao contrário, quero mostrar aqui que o discurso anti-materialidade se torna apenas mais uma violência para aqueles que vivem e sofrem na pobreza. Para os não-privilegiados, enriquecer pode ser uma forma de resistir ao lugar que o sistema lhes designou.

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