Vamos apenas conversar?

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Esses dias estava atendendo um novo cliente, que me perguntou, logo na consulta inicial:

– e o que vamos fazer aqui, apenas conversar?

A pergunta me pegou de surpresa. Como explicar que o que iríamos viver ali era muito além de uma conversa? Pedi a ele que suspendesse temporariamente a questão.

Na medida que iniciamos nossa troca, fui percebendo que as palavras que ele utilizava para descrever suas angústias e sintomas eram muito genéricas:

– Sinto muita ansiedade e acho que sou depressivo.

Aos poucos, durante a consulta, tive a oportunidade de questioná-lo: certo, mas o que é a ansiedade? Onde você a sente? Ela está presente no seu corpo? Como você produz ativamente a ansiedade? Tranca sua respiração, contrai seu peito? Ela tem a ver com algo que está acontecendo, que já aconteceu ou que vai acontecer? Ela tem a ver com minha presença? Meu olhar te exige algo? O que é ser depressivo? O que te faz tomar esse nome como uma verdade? O que te faz diferente dos outros depressivos? A depressão é algo que você sente como exterior a si mesmo? Ou é parte de você? Onde ela está, se está em algum lugar? Ela te acompanha a todos os momentos, ou somente em situações específicas? Você está deprimido agora?

Ora, a Gestalt-Terapia sempre foi uma aposta nas potências da experiência. Conforme adentramos nos detalhes, nas singularidades e estranhezas dos sintomas, afetos e desejos de cada cliente, nos tornamos capazes de perceber, brincar, nos apropriar de cada uma delas.

Depois de adentrar na experiência, temos a oportunidade de transformá-la, de experimentar, propor, ousar. Num espaço seguro, mas que ao mesmo tempo convida ao risco de tentar ser algo que é tanto diferente quanto verdadeiro.

Ao final do atendimento, não foi mais necessário responder a pergunta inicial. Meu cliente já havia entendido – na prática – que o que aconteceu ali entre nós foi muito além de uma simples conversa.

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