A política de viver

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Hoje, não há outro assunto no Brasil além de política. Nada desperta mais angústia, paixão e sofrimento. A intensidade afetiva que vivemos está sem dúvida relacionada ao ano eleitoral e a profunda divisão ideológica-moral da sociedade brasileira.

Entretanto, não se trata apenas de uma questão de representatividade institucional. Na realidade, nossa própria vida carrega em si uma dimensão política. Trata-se da contingência fundamental de que somente por existirmos socialmente, estamos imersos em conflito, desejo e poder.

Mas essa dimensão frequentemente se perde e se enfraquece na exata medida em que submetemos nossos desejos aos anseios demandantes do meio social. Somos subjugados e ensinados a repudiar toda forma de enfrentamento e combatividade.

Não trata-se de acaso, então, que num momento crítico como esse que vivemos, nossos amores e ódios fiquem à flor da pele. Afetos antes adormecidos despertam com todo vigor, buscando expressão. Muitas vezes, exatamente sua repressão constante significa que seu retorno trará efeitos trágicos e violentos.

Me pergunto, então: por que delegamos a tarefa de viabilizar nossos desejos e necessidades para figuras de autoridade?

Me desculpe quem está cansado do assunto. Mas mais do que nunca precisamos assumir nossa existência política, retirá-la do mundo imaginário-representacional e dar-lhe corporeidade. Em ano eleitoral ou não.

(Texto publicado originalmente em 2018)

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