Alta na Gestalt-Terapia

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Pode parecer contraditório com tudo que falo aqui escrever sobre “alta”. Afinal de contas, não é o Gestalt-Terapeuta aquele que não sabe o melhor pro cliente? Não é ele aquele que não decide nada, mas convoca e provoca o exercício da autonomia?

Tudo isso é verdade. A princípio, a ideia de alta em terapia parece paradoxal ou contraproducente. Entretanto, na experiência, a história é outra. Como em qualquer evento temporal, um processo terapêutico é composto de início, meio e fim.

O fim da terapia pode certamente ocorrer de forma abrupta. Talvez o cliente ache um outro lugar onde possa depositar suas ansiedades ou angústias. Talvez o terapeuta não tenha conseguido “captar” aquele afeto especial que precisava ser acolhido, e sua intervenção deixou de fazer sentido naquele campo terapêutico. Nesse caso, eu acreditaria ser melhor dizer: essa terapia acabou sem seu fim. Ela não foi até o final, não fechou a tal da Gestalt.

Mas há outros casos, onde tudo parece acontecer naturalmente. As questões e problemas trazidos pelo cliente inicialmente, suas incapacidades, seus padrões estereotipados, tudo parece se esvaziar, perder a energia e a atenção que demandavam.

Aos poucos ele se apropria de suas próprias formas de viver e de não viver, de sentir e de sofrer, de manipular, delirar, destruir, de se alienar, de repetir.

E curiosamente, ao se apropriar, vez ou outra sente desejo de implicar-se nelas, seja para aceitá-las ou rejeitá-las, transformar-se ou transformar o mundo. Nossos clientes descobrem seu próprio poder e sua própria sensibilidade.

Chega um momento onde a assistência continuada do terapeuta parece parar de fazer sentido. O cliente já não necessita mais daquele “lugar” ou daquele “papel” ao qual, a princípio, convidava o terapeuta a fazer parte. O drama não mais se desenrola da mesma maneira, e talvez não haja mais necessidade que o faça.

Muitas vezes emocionado, com um sorriso bobo no rosto, o terapeuta percebe que não é mais necessário. Como tudo que é belo na vida, aquele momento acabou.

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