Podem ser classificadas como “dogmáticas” as práticas clínicas que contém um ideal de saúde que deve ser atingido. Um médico, por exemplo, age baseado na sua ideia de um corpo em bom-funcionamento.
Nas psicoterapias, entrentanto, o dogmatismo é na maior parte das vezes prejudicial. Os terapeutas que pautam sua prática num ideal pré-concebido acabam por desejar – implicita e explicitamente – que seus clientes se aproximem desse ideal. Assim, impondo um modo de existir, não permitem um crescimento que possa surgir do próprio aqui-e-agora.
Trata-se de um círculo vicioso: como o resultado dessa terapia de fato aproxima o cliente desse ideal de saúde, o terapeuta o declara curado e consequentemente o ideal se fortalece. Esse é um dos motivos de haverem tantas correntes terapêuticas que se acreditam corretas: elas são constantemente autocomprovadas pelos seus próprios métodos e resultados.
A Gestalt-Terapia, percebendo essa tendência, é uma tentativa de abordagem terapêutica não-dogmática. O que não significa que não haja troca e encontro, muito pelo contrário: o terapeuta aqui deseja que a saúde possa nascer da própria experiência.
Por isso, é também um exercício crítico, ou seja, o terapeuta está constantemente questionando ideais e se negando a dar respostas prontas, postura diferente das abordagens dogmáticas onde ele detém o saber. A tarefa do Gestalt-Terapeuta por vezes será sustentar o vazio e o silêncio, de onde algo autenticamente não-dogmático possa surgir.