Sem dúvida alguma, a Gestalt-Terapia é uma abordagem de contato.
Em geral, interpreta-se isso da seguinte forma: terapeuta e cliente entrarão um em contato com o outro, e esse encontro poderá ser frutífero e transformador. Apesar de ser parcialmente verdadeira, essa forma de interpretar o contato é superficial.
A profundidade – muitas vezes esquecida – da ideia de contato na abordagem gestáltica vem do fato de que, nela, o contato é ontologicamente anterior aos indivíduos. Qualquer individualidade só pode nascer do contato – ela não poderia então ser seu fundamento.
Dessa forma, é necessário enfatizar que na terapia, o contato não acontece numa linha reta entre terapeuta e cliente ou vice-versa; ele acontece entre os dois, como algo estranho a ambos. Antes da sessão, o terapeuta não sabe nem quer saber qual será seu resultado.
O Gestalt-Terapeuta é então aquele profissional que se surpreende, que provoca e escuta os efeitos de uma dimensão que nem ele nem seu cliente esperavam. Não está tão preocupado com o conteúdo das palavras, mas sim com os silêncios, os afetos, as formas, as intenções, as entrelinhas, os desejos implícitos.
Tudo ocorre como se não só os dois estivessem ali, mas também um terceiro. Este terceiro não é uma pessoa; é o próprio contato com uma companhia antiga mas também sempre nova: a presença do tempo.
