Reflexão sobre a neurose

Matheus Ribeiro

Matheus Ribeiro

Embora para a Gestalt-Terapia os ajustamentos neuróticos sejam estratégias manipulativas para delegar o mal-estar da existência aos semelhantes, não por isso eles deixam de comportar algo de criativo. Afinal, eles tem a capacidade de aliviar a ansiedade que um sujeito que está inibido – em favor do desejo do outro – tem de suportar.

Não é de se surpreender que o meio social, eventualmente, se canse desses sujeitos chatos, pedantes, reclamões, preguiçosos, inibidos, irritantes… Há mil formas de se fazer neurose.

O meio social, que já não tolerava seus desejos espontâneos, obrigando-o a se inibir, agora também não tolera os ajustamentos neuróticos que faz para delegar a ansiedade, pois esses ajustamentos também não satisfazem os ideais midiáticos de como alguém deve ser.

Temos, nesses casos, sujeitos que são obrigados pelo meio social a tolerar o mal-estar e a ansiedade decorrente de sua vida inibida. Não é de se surpreender o aumento exponencial dos ditos “transtornos de ansiedade” em nossa sociedade. Nem desejo, nem ajustamento neurótico: o meio social exige que os sujeitos se inibam e tolerem a ansiedade, de forma a qual tenham que se alienar no trabalho e no consumo como meio de apaziguá-la.

É no sentido contrário, num movimento de empoderamento, que trabalharão os Gestalt-Terapeutas. Não que estes sejam “agentes da neurose”. É fato de que esta é limitadora e leva a uma vida, no máximo, suportável e medíocre. Mas, ela é, muitas vezes, uma “muleta” necessária para impedir o fracasso e o desastre total. É uma estratégia a qual boa parte dos sujeitos recorrem de forma a poder suportar e ter o mínimo de prazer em uma vida cercada por um meio social cruel e exigente.

A questão é: até que ponto alguém precisa de suas neuroses para sobreviver e a partir de qual ponto se recusa a abandoná-la pelo prazer e apego de ser neurótico?

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