A síndrome de Paris é nomeada dessa forma por ser principalmente comum entre turistas japoneses que viajam à Paris. Os afetados pela síndrome manifestam sintomas de ansiedade, despersonalização, delírios, tontura, sudorese, entre outros. O que leva tais sintomas a se apresentar numa população tão específica?
Ora, a mídia japonesa vende e propaga uma imagem idealizada de Paris. Os japoneses, muitas vezes imaginam Paris como uma terra de sonhos, uma terra de beleza, cultura e romance. Ao encontrar a cidade real, percebem que também Paris tem defeitos, falhas, impurezas, enfim: que é um lugar real, permeado por pessoas reais.
O que esses turistas procuravam em Paris? Fico com a impressão que esse choque frustra uma imensa expectativa de perfeição, de pureza, um lugar onde não há morte ou desordem, onde nada nos afeta sem nosso consentimento ativo.
Penso que essa atitude não se restringe aos japoneses em Paris: quantas vezes nós baseamos nossos relacionamentos em expectativas inatingíveis, exigindo das pessoas o comportamento de um ideal? Quantas vezes agimos como se o outro fosse algo a se consumir, e ao perceber que sua realidade nos escapa, ficamos frustrados? Da mesma forma, quantas vezes nos exigem isso, esquecendo que somos demasiado reais, de carne, sangue e afeto?
A mídia e o consumismo disseminam imagens da possibilidade de satisfação total, da pureza do prazer, da vida sem angústia ou vulnerabilidade. Essas imagens terminam apenas por violentar nossa existência real.
